Segundo a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989 define-se deficiência múltipla como:
• Associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (intelectual / visual / auditiva / física), com comprometimentos que acarretam consequências no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa.
“Considera-se uma criança com deficiência múltipla sensorial aquela que apresenta deficiência visual ou auditiva, associada a outras condições de comportamento e comprometimentos, sejam elas na área física, intelectual ou emocional, e dificuldades de aprendizagem.” (MEC/SEESP/2006).
É importante esclarecermos que as pessoas com surdocegueira não são classificadas como múltiplas, pois quando elas têm oportunidades interagem com o meio e com as pessoas adequadamente.
Definição e Implicações da Surdocegueira
Denomina-se surdocego àquele que possui dificuldades visuais e auditivas, independentemente da sua quantidade. “Uma pessoa que tenha deficiências visuais e auditivas de um grau de tal importância, que esta dupla perda sensorial cause problemas de aprendizagem, de conduta e afete suas possibilidades de trabalho, é denominada surdocega”. OLSON, Stig, Surdocegueira. Apresentação na “A surdez: um mundo de encontro”, Santa Fé de Bogotá, 1995.
A surdocegueira é uma deficiência única e especial que requer métodos de comunicação especiais, para viver com as funções da vida cotidiana. (BEST Tony Information Guide, definições de surdocegueira usadas em outros países. Documento sem editar).
A surdocegueira é uma limitação que se caracteriza por:
- Sérios problemas relacionados com a comunicação com o meio.
- Sérios problemas relacionados com a orientação no meio.
- Sérios problemas relacionados à obtenção de informação. (McINES, John Programming for congenital and early adventitios deafblind adults).
Tipos de Surdocegueira
A surdocegueira pode ser:
•
Congênita
•
Adquirida
CONGÊNITA: Denomina-se surdocego congênito quem nasce com esta única deficiência, como por exemplo pela rubéola adquirida no ventre da mãe.
ADQUIRIDA: A surdocegueira adquirida é quando a pessoa nasce ouvinte, vidente, surda ou cega e adquire, por diferentes fatores, a surdocegueira.
NECESSIDADES DA PESSOA COM MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA
De acordo com Nunes (2002), podem ser agrupadas em três blocos:
Necessidades físicas e médicas, como por exemplo: A mais frequente causa da deficiência múltipla é a Paralisia Cerebral, que compromete a postura e a mobilidade. Os movimentos voluntários são limitados em termos qualitativos e quantitativos, limitações sensoriais (visual e auditiva), convulsões, controle respiratório e pulmonar, problemas com deglutição e mastigação, saúde mais frágil com pouca resistência física;
Necessidades emocionais de: Afeto, atenção, oportunidades de interagir com o meio e com o outro, desenvolver relações sociais e afetivas, estabelecer uma relação de confiança;
Necessidades educativas devido a: Limitações no acesso ao ambiente, dificuldades em dirigir atenção para estímulos relevantes, dificuldades na interpretação da informação, dificuldades na generalização.
A comunicação é de extrema importância na aquisição de uma boa qualidade de vida e as principais vias de acesso à comunicação são a visão e a audição. A perda de uma ou ambas limita a aprendizagem incidental, onde a criança recebe e procura ativamente informações seja na interação com o meio ou com outro, proporcionando experiências significativas e fazendo associações com experiências prévias e assim aprendendo.
Nunes (2002) coloca que a limitação no acesso à aprendizagem incidental faz com que a pessoa receba informações de maneira fragmentada ou distorcida, sendo então essencial ensinar o que os outros aprendem acidentalmente. Além disso, coloca também, que a dificuldade na comunicação cria limitações na interação com os outros e com o meio levando a pessoa a ter poucas experiências sociais.
A mesma autora discorre sobre as consequências que podem ocorrer da falta de uma comunicação. O isolamento social pode levar a dificuldades comportamentais e emocionais, como por exemplo, hiperatividade, comportamentos obsessivos, agressividade e auto-agressão, estereotipias, auto-estimulação, distúrbios de atenção, entre outros.
ABORDAGEM EDUCACIONAL
Nas crianças com surdocegueira e com deficiência múltipla, a COMUNCIAÇÃO é o aspecto mais importante e, por isto, deve-se focar nele toda a atenção na implementação do programa educacional/terapêutico, já que é o ponto de partida para chegar a qualquer aprendizagem.
É preciso considerar o estilo de aprendizagem de cada um observando suas preferências e fortalezas e trabalhar em cima das habilidades que a pessoa tem.
Analisando as necessidades de uma pessoa com deficiência múltipla e as consequências que a falta de comunicação pode trazer a abordagem educacional deve ter estratégias planejadas de forma sistemática, num modelo de colaboração na qual a comunicação seja a prioridade central.
É necessário organizar o mundo da pessoa por meio do estabelecimento de rotinas claras e uma comunicação adequada. É preciso desenvolver atividades de maneira multisensorial para garantir aproveitamento de todos os sentidos e que sejam atividades que proporcionem uma aprendizagem significativa com oportunidades de generalizar para outros ambientes e pessoas (atividade funcional).
A pessoa com deficiência múltipla necessita de um ambiente reativo, isto é, que responda a suas iniciativas. Seu tempo de resposta deve ser respeitado e a habilidades de fazer escolhas deve estar dentro de suas atividades programadas. Esta abordagem educacional nada mais é do que o trabalho em equipe.
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AUMENTATIVA
Comunicação alternativa e aumentativa refere-se a sistemas usados para dar suporte às habilidades comunicativas do indivíduo cuja fala esteja temporariamente ou permanentemente inadequada para suprir as necessidades comunicativas do mesmo. Muitos indivíduos múltiplos deficientes usam um pouco de fala, vocalizações ou sons e gestos ou comportamentos para se comunicar, mas não de maneira efetiva, por isso se beneficiarão de um sistema alternativo e aumentativo de comunicação.
INÍCIO DA COMUNICAÇÃO – PESSOAS COM SURDOCEGUEIRA
A perda visual e auditiva limita o conhecimento do que acontece, já que sua percepção de distância fica comprometida. Não saber o que acontece fora do corpo pode gerar angústia, instabilidade emocional e temor. É então que a unidade de vida e conexão com o mundo é feita por meio do tato, “adquirindo uma relevância especial nas suas necessidades de comunicação, obtenção de conhecimentos e aprendizagem”. (Alvarez, 1991); este sentido depois da visão e da audição, é o que pode oferecer mais informação.
Ao falarmos das pessoas surdocegos que ainda não alcançaram a fase dos sinais, devemos dar ênfase à importância da leitura dos movimentos do corpo e do uso dos outros sentidos básicos para que elas aprendam.
Lembrar que devemos, permanentemente ANTECIPAR e DAR tempo para que a criança processe a pergunta e possa responder; elas precisam de mais tempo.
É conveniente ter clareza de qual é seu objetivo de comunicação com a criança.
-
Como a criança funciona agora?
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Compreende símbolos corporais ou sinais?
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Usa sinais para solicitar eventos?
-
Compreende gestos tais como ordens simples em linguagem formal?
Ficcocello (1975), retomado por Anderson S. (1978), diz que as atividades devem possuir as seguintes condições:
1.
Refletir os objetivos integrais em longo prazo.
2.
Ser relevantes para o ambiente da criança.
3.
Acontecer no decorrer das rotinas diárias.
4.
Considerar as condições limitantes da criança e o nível de funcionamento.
O “vocabulário” que será “ensinado” deve referir-se aos objetivos dentro das áreas de: autocuidado, cognição, habilidades motoras, conduta social aceitável e todas as demais que a criança possa necessitar. O “vocabulário” deverá incluir objetos, ações e eventos de acordo com as experiências diárias da criança e excluir aquelas com as quais a criança não tenha experiência. Uma criança que não brinque com bolas ou carros ou bicicletas realmente não tem necessidade ou desejo de aprender essas palavras, até que um vocabulário básico seja estabelecido. A linguagem deve esta baseada na experiência: você deve ter alguma coisa para falar.
5.
Como quinta condição poderia acrescentar que todas as atividades planejadas devem ser prazerosas para a criança e o professor.
A chave para o sucesso chama-se MOTIVAÇÃO. Só aprendemos quando motivados, por isso toda a preocupação em focar a educação da pessoa com deficiência múltipla ou com surdocegueira, dentro de atividades funcionais e significativas para ele. A possibilidade de se comunicar e ser ouvido, de ter a oportunidade de fazer escolhas dentro de uma rotina previsível, com atividades sendo antecipadas por um meio de comunicação dentro de suas possibilidades podem levar a pessoa a perceber que tem controle sobre sua vida, nem que seja em uma pequena parte, o que é altamente motivante. “Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades” (Hallahan e Kauffman, 1994).
Referências:
SERPA, Ximena Fonegra, Comunicação para Pessoas com Surdocegueira. Tradução do livro Comunicacion para Persona Sordociegas, INSOR-Colômbia 2002.
IKONOMIDIS, Vula Maria, Apostila sobre “Deficiência Múltipla Sensorial”, 2010 sem publicar.
Olá Simone,
ResponderExcluirGostei muito do fechamento do seu texto, onde você coloca a importância da MOTIVAÇÃO, realmente, ela é a mola que impulsiona o aprendizado despertando em nós o desejo de aprender, independente de nossas condições físicas, cognitivas ou emocionais.